CAPÍTULO
3
OBJETIVOS
PARA ALACANÇAR OS RESULTADOS
DE CONSERVAÇÃO DA
BIODIVERSIDADE
Nosso
plano de conservação
deve estar direcionado para atingir
os grandes objetivos de conservação
da biodiversidade, que são
amplamente adotados segundo os fundamentos
da ciência da biologia da
conservação (Noss,
1992). Esta Visão de Biodiversidade
é norteada por quatro objetivos
de conservação, que
devem ser alcançados nos
próximos cinqüenta anos.
Estes objetivos incluem:
1)
Resiliência –
conservar blocos de habitat natural
que são grandes o suficiente
para responder às mudanças
ambientais de curto e longo prazos.
Discutiremos posteriormente por
que grandes blocos de floresta
são mais resilientes que
pequenos blocos.
2) Populações
viáveis –
manter populações
viáveis de todas as espécies
nativas em modelos de abundância
e distribuição naturais
e o potencial evolutivo das espécies.
3) Processos ecológicos
– manter processos ecológicos
e fatores seletivos característicos
desta ecorregião, tais
como os regimes de perturbação,
processos hidrológicos,
ciclagem de nutrientes e interações
bióticas, incluindo predação.
4) Representatividade
– manter, dentro de uma
rede de áreas protegidas
e da Paisagem de Conservação
da Biodiversidade, uma amostra
representativa de todas as comunidades
biológicas nativas e estádios
sucessionais, com sua variação
natural.
O
que precisamos fazer para alcançar
estes objetivos?
Ao contrário da maioria das
outras ecorregiões de floresta
do mundo, o alto grau de fragmentação
e degradação dos habitats
da Ecorregião Florestas do
Alto Paraná representa um
grande desafio para se alcançar
os objetivos de conservação
da biodiversidade delineados acima.
Freqüentemente, sugere-se que
pelo menos 10% (sendo o ideal 15
– 25%) de cada unidade de
paisagem (4) devem ser preservados
a fim de representar adequadamente
as comunidades ecológicas
existentes.
É impossível alcançar
este objetivo em 50–100 anos,
já que a cobertura florestal
na Ecorregião Florestas do
Alto Paraná é de somente
cerca de 7,8%. O que restou da floresta
original se encontra altamente fragmentado
e uma paisagem fragmentada representa
um desafio assustador para a conservação
da biodiversidade, resultando em
uma série de efeitos bem
estudados com relação
ao efeito de borda e ao isolamento.
Há somente 28 fragmentos
florestais maiores que 10.000 hectares
em toda a ecorregião e somente
dois deles são maiores que
100.000 hectares. Entretanto, estes
poucos, porém grandes, fragmentos
florestais representam mais da metade
da área florestal remanescente
(Figura
11). Noventa e dois porcento
da Ecorregião Florestas do
Alto Paraná estão
degradados como conseqüência
da expansão das cidades,
estradas e outras infraestruturas,
propriedades particulares e áreas
de agricultura de grande escala
e de subsistência. Esta paisagem
modificada e degradada pelos seres
humanos reduz as oportunidades de
conexão entre os fragmentos
florestais remanescentes.
Apesar dos problemas para conservação
descritos acima, os poucos blocos
de floresta relativamente grandes
que permanecem na ecorregião
ainda contêm espécies
guarda-chuva, como onças,
gaviões e queixadas, sugerindo
que nestas áreas a biodiversidade
e os principais processos ecológicos
permanecem essencialmente intactos
(5). Estes grandes blocos de floresta
continuam a ser degradados e fragmentados
– fatores que irão,
possivelmente, reduzir a biodiversidade
e resiliência. Para se atingir
os primeiros três objetivos
de conservação descritos
acima, precisamos proteger os poucos
grandes blocos florestais remanescentes
na ecorregião.
Apesar de um extenso debate entre
ecólogos e biólogos
da conservação a respeito
da capacidade ou não de vários
fragmentos muito pequenos conseguirem
manter mais ou menos espécies
que um grande fragmento (Bierregaard
et al. 1992), um grande fragmento
é, geralmente, superior a
um pequeno em termos de habilidade
para conservar a biodiversidade
em todos os níveis.
Somente os maiores blocos florestais
(> 10.000 ha de floresta contínua
e relativamente intacta) são
resilientes às mudanças
ambientais de curto prazo, são
capazes de abrigar indivíduos
de espécies guarda-chuva
e podem manter processos ecológicos
e fatores seletivos, assim como
interações bióticas
como a polinização
de espécies chave (e. g.
figueira) e predação.
É importante reconhecer,
entretanto, que proteger os grandes
blocos de habitat remanescentes,
ainda que absolutamente importante,
não é por si só
suficiente para se atingir os objetivos
de conservação.
(4)
A descrição e metodologia
utilizada na abordagem baseada em
“unidades de paisagem”
serão apresentadas no Capítulo
4.
(5) Embora as espécies guarda-chuva
permaneçam nestes grandes
blocos de floresta isto não
é um indicador da sobrevivência
destas espécies por longo
tempo nestes remanescentes florestais.
Muitos destes blocos florestais
precisam ser conectados a outros
remanescentes para garantir a viabilidade
destas populações
por prazos mais longos. |