Foto: Liviam Cordeiro Beduschi - WWF-Brasil Foto: José & Adriana Calo Foto: WWF-Canon/Michel Gunther Foto: WWF-Canon/Michel Gunther Foto: WWF-Canon/Michel Gunther
 

CAPÍTULO 3

OBJETIVOS PARA ALACANÇAR OS RESULTADOS
DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

Nosso plano de conservação deve estar direcionado para atingir os grandes objetivos de conservação da biodiversidade, que são amplamente adotados segundo os fundamentos da ciência da biologia da conservação (Noss, 1992). Esta Visão de Biodiversidade é norteada por quatro objetivos de conservação, que devem ser alcançados nos próximos cinqüenta anos. Estes objetivos incluem:

 

1) Resiliência – conservar blocos de habitat natural que são grandes o suficiente para responder às mudanças ambientais de curto e longo prazos. Discutiremos posteriormente por que grandes blocos de floresta são mais resilientes que pequenos blocos.

2) Populações viáveis – manter populações viáveis de todas as espécies nativas em modelos de abundância e distribuição naturais e o potencial evolutivo das espécies.

3) Processos ecológicos – manter processos ecológicos e fatores seletivos característicos desta ecorregião, tais como os regimes de perturbação, processos hidrológicos, ciclagem de nutrientes e interações bióticas, incluindo predação.

4) Representatividade – manter, dentro de uma rede de áreas protegidas e da Paisagem de Conservação da Biodiversidade, uma amostra representativa de todas as comunidades biológicas nativas e estádios sucessionais, com sua variação natural.

O que precisamos fazer para alcançar estes objetivos?

Ao contrário da maioria das outras ecorregiões de floresta do mundo, o alto grau de fragmentação e degradação dos habitats da Ecorregião Florestas do Alto Paraná representa um grande desafio para se alcançar os objetivos de conservação da biodiversidade delineados acima. Freqüentemente, sugere-se que pelo menos 10% (sendo o ideal 15 – 25%) de cada unidade de paisagem (4) devem ser preservados a fim de representar adequadamente as comunidades ecológicas existentes.

É impossível alcançar este objetivo em 50–100 anos, já que a cobertura florestal na Ecorregião Florestas do Alto Paraná é de somente cerca de 7,8%. O que restou da floresta original se encontra altamente fragmentado e uma paisagem fragmentada representa um desafio assustador para a conservação da biodiversidade, resultando em uma série de efeitos bem estudados com relação ao efeito de borda e ao isolamento. Há somente 28 fragmentos florestais maiores que 10.000 hectares em toda a ecorregião e somente dois deles são maiores que 100.000 hectares. Entretanto, estes poucos, porém grandes, fragmentos florestais representam mais da metade da área florestal remanescente (Figura 11). Noventa e dois porcento da Ecorregião Florestas do Alto Paraná estão degradados como conseqüência da expansão das cidades, estradas e outras infraestruturas, propriedades particulares e áreas de agricultura de grande escala e de subsistência. Esta paisagem modificada e degradada pelos seres humanos reduz as oportunidades de conexão entre os fragmentos florestais remanescentes.

Apesar dos problemas para conservação descritos acima, os poucos blocos de floresta relativamente grandes que permanecem na ecorregião ainda contêm espécies guarda-chuva, como onças, gaviões e queixadas, sugerindo que nestas áreas a biodiversidade e os principais processos ecológicos permanecem essencialmente intactos (5). Estes grandes blocos de floresta continuam a ser degradados e fragmentados – fatores que irão, possivelmente, reduzir a biodiversidade e resiliência. Para se atingir os primeiros três objetivos de conservação descritos acima, precisamos proteger os poucos grandes blocos florestais remanescentes na ecorregião.

Apesar de um extenso debate entre ecólogos e biólogos da conservação a respeito da capacidade ou não de vários fragmentos muito pequenos conseguirem manter mais ou menos espécies que um grande fragmento (Bierregaard et al. 1992), um grande fragmento é, geralmente, superior a um pequeno em termos de habilidade para conservar a biodiversidade em todos os níveis.

Somente os maiores blocos florestais (> 10.000 ha de floresta contínua e relativamente intacta) são resilientes às mudanças ambientais de curto prazo, são capazes de abrigar indivíduos de espécies guarda-chuva e podem manter processos ecológicos e fatores seletivos, assim como interações bióticas como a polinização de espécies chave (e. g. figueira) e predação. É importante reconhecer, entretanto, que proteger os grandes blocos de habitat remanescentes, ainda que absolutamente importante, não é por si só suficiente para se atingir os objetivos de conservação.


(4) A descrição e metodologia utilizada na abordagem baseada em “unidades de paisagem” serão apresentadas no Capítulo 4.

(5) Embora as espécies guarda-chuva permaneçam nestes grandes blocos de floresta isto não é um indicador da sobrevivência destas espécies por longo tempo nestes remanescentes florestais. Muitos destes blocos florestais precisam ser conectados a outros remanescentes para garantir a viabilidade destas populações por prazos mais longos.


 
Foto: Anibal Parera/FVSA
Sumário Executivo
 
Capítulo 1 – Conservação Ecorregional e a Visão de Biodiversidade
 
Capítulo 2 – A Ecorregião Florestas do Alto Paraná
 
Capítulo 3 – Objetivos para Alcançar os Resultados de Conservação da Biodiversidade
 
Capítulo 4 – Planejando uma Paisagem de Conservação da Biodiversidade – Metodologia
 
Capítulo 5 – Resultados:
A Paisagem de Conservação da Biodiversidade
 
Capítulo 6 – Estabelecendo prioridades e metas para ações de conservação
 
Referências Bibliográficas
 
Agradecimentos
 
Índice de Figuras de Tabelas