Não custa tanto - Mais recente Relatório IPCC

O aumento das emissões de gases de efeito estufa pode ser detido com custos relativamente baixos. Essa é a principal conclusão da terceira parte do relatório de 2007 do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), cujo conteúdo foi divulgado na sexta-feira (4/5), em Bangcoc (Tailândia).

O documento, produzido por centenas de cientistas de diversos países, aponta que, para evitar mudanças desastrosas no clima global, a temperatura média do planeta não poderia subir mais do que 2ºC. O problema é que, para isso, seria preciso reduzir as emissões de dióxido de carbono entre 50% e 85% até 2050.

O cenário de redução de emissões que permitiria limitar o aquecimento global a 2ºC, segundo o documento, supõe uma estabilização na concentração de gases de efeito estufa na atmosfera em um valor de cerca de 445 partes por milhão (ppm). As concentrações atmosféricas atuais equivalem a cerca de 425 ppm. Antes da Revolução Industrial, a taxa era de 280 ppm.

O impacto dessa estabilização na economia mundial seria de até 3% do PIB mundial até 2030. No mesmo período, o impacto no crescimento projetado da economia seria de apenas 0,12%. Em outro cenário, visando à estabilização das emissões entre 535 e 590 ppm – o que limitaria o aquecimento global entre 2,8º e 3,2ºC – haveria um impacto de 0,2% a 2,5% no PIB mundial.

A primeira parte do relatório do IPCC, lançada em fevereiro, tratava da avaliação científica do fenômeno de aquecimento global. A segunda, publicada em abril, destacava possíveis impactos do aquecimento sobre países e ecossistemas.

Caminhos possíveis

Uma das principais propostas do documento agora divulgado para mitigar o aquecimento global é estimular o uso de formas alternativas de energia, que não envolvam a queima de combustíveis fósseis, a partir da adoção dos mecanismos de crédito de carbono.

Outra proposta, mais agressiva, seria taxar as emissões de carbono no setor energético. Um aumento no preço da tonelada de dióxido de carbono para até US$ 50, por exemplo poderia aumentar para níveis considerados desejáveis a participação das fontes renováveis na matriz energética

Os esforços para redução de emissões deverão trazer ganhos até mesmo econômicos, dizem os autores da nova parte do relatório. “As vantagens a curto prazo para os sistemas de saúde, provenientes da redução da poluição que seria gerada pelas ações de diminuição de emissões, compensariam uma parte substancial dos custos da mitigação”, afirmaram.

Ainda que o custo econômico pareça relativamente modesto, trata-se de uma inversão radical das trajetórias atuais. Como destaca o documento do IPCC, as emissões de gases de efeito estufa cresceram 70% entre 1970 e 2004.

O relatório destaca que as emissões poderão aumentar entre 25% e 90% até 2030, em comparação com os níveis de 2000. Entre 66% e 75% do aumento ocorreria em países em desenvolvimento, ainda que a emissão per capita nesses estaria abaixo do nível dos países mais ricos.

Para inverter essa tendência, os pesquisadores ressaltam que a eficiência energética “tem um papel central em todos os cenários”. O documento defende que é mais econômico investir na melhoria da eficiência do que no aumento da oferta de energia. Isso traria benefícios em termos de segurança energética, de redução da poluição e de criação de empregos. A oferta de energia aumentou 145% entre 1970 e 2004.

As energias renováveis aparecem como as mais promissoras no relatório: se o preço do dióxido de carbono chegar a US$ 50 por tonelada, a energia renovável poderá pular dos atuais 18% da eletricidade mundial para 35% em 2030. Em contrapartida, a energia nuclear tem perspectivas limitadas: no mesmo cenário, passaria de 16% do fornecimento mundial de eletricidade para 18% em 2030.

O relatório recomenda o uso de energia solar e eólica, combinado com a utilização eficiente de energia na iluminação de prédios, além de captura e o armazenamento de dióxido de carbono expelido por usinas movidas a carvão. Pela primeira vez, o IPCC indicou que mudanças no estilo de vida podem ajudar no combate ao aquecimento global, embora não as tenha detalhado.

Os especialistas destacaram também que a agricultura pode contribuir para a redução de emissões com um custo moderado, ainda que não exista atualmente “uma lista universalmente aplicável de práticas de mitigação no setor agrícola”.

De acordo com o relatório do IPCC, não se deve criar muitas expectativas em relação às soluções de geoengenharia, que consistem, por exemplo, em aumentar a quantidade de ferro do mar (para proliferar os fitoplânctons e estimular a fotossíntese) ou captar a luz solar na alta atmosfera. “São soluções altamente especulativas e não provadas, com riscos de efeitos secundários desconhecidos”, afirma o documento.

Mais informações sobre o relatório: www.ipcc.ch

Agência FAPESP (07/05/2007)